Bom dia, tudo certinho por aí? Tenho separado alguns conteúdos diferentes para postar no Linda GG, pra gente não ficar só nessa de roupa roupa roupa roupa... assim não fica enjoativo.
Já fiz as fotos dos meus Top produtos de beleza e farei um post sobre isso, vou fazer um diário de viagem, vou postar mais TAGs que muitas de vocês gostam, e hoje, para começar a diversificar o assunto, vou postar um artigo que pode ser do interesse de muitas.
Vocês sabem que sou psicóloga, atuo em área clínica e recebo muitos pacientes candidatos à cirurgia bariátrica. Esses pacientes sempre me fazem a mesma pergunta: Pra que serve o psicólogo? Porque eu tenho que passar por aqui? Respondi essa pergunta em um blog de psicologia para o qual eu escrevo, o
Blog Psicoque?, e resolvi trazer este texto para o Linda GG também.
Então, se você está pensando em passar pela cirurgia, já está no processo pré-operatório ou já realizou o procedimento e ainda não viu sentido no nosso acompanhamento, este texto é pra você e pode te esclarecer algumas dúvidas.
A CONTRIBUIÇÃO DO PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA INSERIDO NA EQUIPE DA CIRURGIA BARIÁTRICA
Por Amanda Bragion
Vários são os fatores que motivam a busca pela cirurgia bariátrica, entre eles podem-se destacar problemas de saúde relacionados à obesidade, padrões estéticos e o desejo psicológico de mudança como forma de resgatar a autoestima. Além destes problemas, a relação do indivíduo com o contexto social e a maneira como a obesidade aparece como sendo prejudicial para este vínculo com o mundo externo, contribuem para a tomada de decisão para a realização da cirurgia.
Marchesini (2006) aponta que a cirurgia bariátrica é o único tratamento, na atualidade, que resulta em uma perda de peso significativa por um longo tempo, e por este motivo faz-se necessário o acompanhamento do paciente por uma equipe multidisciplinar completa.
De acordo com a Resolução 1.942/10 do Conselho Federal Medicina (CFM), a equipe deve ser composta por cirurgião com formação específica, clínica, nutrólogo e/ou nutricionista, psiquiatra e/ou psicólogo, fisioterapeuta, anestesista, enfermeiros e auxiliares de enfermagem familiarizados com o manejo desses pacientes. A equipe precisa ser capacitada para cuidar do paciente nos períodos pré e pós-operatório, além de fazer o acompanhamento deste paciente.
Uma característica fundamental para que o paciente possa se submeter à cirurgia é que ele tenha maturidade e esteja disposto a receber ajuda psicológica, que se faz muito importante no processo de descobrir um novo como e se habituar a conviver com ele (LEAL, 2007).
A avaliação psicológica tem o objetivo de identificar, junto ao paciente, os motivos pelos quais ele busca a intervenção cirúrgica no tratamento de obesidade. Para ele, a cirurgia bariátrica impõe a aceitação social e o sentimento de reencontro com sua identidade que está encoberta pelo excesso de gordura corporal (MAGDALENO, CHAIM e TURATO, 2009, p.74).
A fase pré-operatória consiste em avaliar se o sujeito está apto psicologicamente para a realização da cirurgia, trabalhando com o mesmo os significados que o comer e a gordura têm para ele, bem como a preparação para a próxima etapa do processo e para a adaptação com o novo corpo (WAIDERGORN, LOPES e EVANGELISTA 1999, apud MARCHIOLLI, MARCHIOLLI e SILVA, 2005). Marchesini (2010) destaca que nas primeiras entrevistas os candidatos à cirurgia mostram-se comprometidos e motivados a seguir os procedimentos necessários para alcançar os objetivos, porém, na medida em que passam a condição de operados, nos casos de sucesso, acabam por se esquecer dos propósitos do tratamento.
Há de se considerar, contudo, as dificuldades da etapa pós-operatória da cirurgia de obesidade. Logo após o procedimento, o paciente ficará restrito à dieta líquida, caracterizando uma restrição alimentar radical. A falta de mastigação e a redução dos nutrientes tornam este período a pior fase do tratamento. Essas mudanças radicais transformam o início da etapa pós-operatória em ritual de passagem para a nova vida do paciente, por isso a necessidade dele ter sido previamente preparado para a cirurgia, além de continuar com o acompanhamento por algum tempo.
“Quem está inserido nesse meio sabe que a cirurgia bariátrica não tem o objetivo estético e o paciente deve ser alertado sobre isso e muito bem trabalhado em termos psíquicos. A estética é como um brinde que vem com os resultados da cirurgia; é o benefício psíquico da autoestima que acompanha o kit bariátrico, mas não é e não pode ser seu objetivo primeiro” (MARCHESINI, 2006, p. 198).
Esta modalidade de cirurgia deve, portanto, ser obrigatoriamente entendida como um dos passos a serem dados no processo do tratamento da obesidade severa, não o passo final. O candidato à cirurgia tem que estar ciente de que precisa continuar todo o acompanhamento multidisciplinar para garantir o êxito no trabalho a ser realizada, destacando, portanto, a importância do acompanhamento psicológico também na fase pós-operatória do procedimento. A pessoa obesa, inicialmente, pode ter a falsa impressão de que, ao emagrecer, tudo vai mudar de uma hora para outra, e acaba deixando para depois seus sonhos, emoções, planos, como se a vida só pudesse ser vivida por pessoas magras. Essa ideia pode causar problemas, pois a pessoa pode não emagrecer e deixar a vida passar sem realizar seus desejos, ou pode emagrecer e perceber que nada mudou, e com isso sentir-se muito frustrada (DI BENEDETTO, 2006).
A cirurgia acarreta uma reorganização na vida do paciente, seja porque impõe uma nova rotina de hábitos alimentares, que pode ser assimilada com maior ou menor facilidade, ou porque os efeitos da cirurgia interferem diretamente na imagem corporal que a pessoa tem de si (BELFORT, 2006).
Durante todas as etapas do acompanhamento, “quanto maior for a capacidade do paciente em perceber com clareza seu corpo obeso e, principalmente o significado que ele tem para si, maior será a oportunidade desse mesmo paciente assimilar as mudanças que o emagrecimento provoca” (GLEISER, 2006, p. 81, 82).
Uma pessoa que não é capaz de se reconhecer como é agora, muito provavelmente não conseguirá incorporar adequadamente sua imagem magra e bonita. A passagem de um corpo obeso e disforme para uma aparência agradável e normal deve antes de tudo passar pela emoção e pelo consciente. A mente busca sempre o equilíbrio; um corpo magro e um psiquismo obeso não podem conviver.
Referências Bibliográficas:
BELFORT, M. O. F. G. Avaliação para cirurgia bariátrica no contexto hospitalar: diferentes formas de intervenção. In: FRANQUES, A. R. M.; ARENADES- LOLI, M. S. Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. São Paulo: Vetor, 2006
BRAGION, A.; CORVELLO, N. M.; MONARI, A. T. J. S.; MOREIRA, K. R.; PEDREIRO, P. P.; TORRES, A. A.; VERGARA, A. M. BENZONI, P.E (Orientador). A autoimagem de mulheres submetidas à cirurgia bariátrica: Estudos de casos múltiplos. Araraquara, São Paulo, 2013
DI BENEDETTO, C. Adolescentes obesos, sua família e a avaliação preparatória para o tratamento cirúrgico: quando começar e quando terminar? In: FRANQUES, A. R. M.; ARENADES- LOLI, M. S. Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. São Paulo: Vetor, 2006, p.91- 103
DI BENEDETTO, C. Questões investigativas sobre obesidade e gênero. In: FRANQUES, A. R. M.; ARENADES- LOLI, M. S. Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. São Paulo: Vetor, 2006
LEAL, C. W.; BALDIN, N. (orientadora). Impacto emocional da cirurgia batiátrica: uma interpretação à luz fenomenológica. Dissertação de Mestrado em Saúde e Meio Ambiente, Univille – Joinville, 2007.
MARCHESINI, J.B. História da cirurgia bariátrica e das equipes multidisciplinares: os psicólogos. In: A. R. M.; ARENADES- LOLI, M. S. Contribuições da psicologia na cirurgia da obesidade. São Paulo, Vetor, 2006, p.13- 21.
MARCHESINI, S. D. Acompanhamento psicológico tardio em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. ABCD Arq Brás Cir Dig, V.23, n.2, p. 108 - 113, 2010.
MARCHIOLLI, A. C. D.; MARCHIOLLI, P. T. O.; SILVA, L. B. C. As conseqüências psicossociais da cirurgia de redução de estômago. Mudanças – Psicologia da Saúde, V.13, n.1, p. 175 - 214, jan-jun 2005.